Perguntas ao Yves Shoshin Crettaz
Mestre do Dojo
Como surgiu a meditação zen na sua vida?
Encontrei o zen relativamente tarde, tinha 40 anos. Nessa altura praticava yoga e o nosso professor dirigia sempre uma breve meditação no início da sessão. Mandava-nos visualizar, por exemplo, um pôr-do-sol num lago de montanha, o que não me agradava nada. Então fui ao dojo zen de Lausana na Suíça, a cidade onde vivia, para conhecer esse zen que eu tinha descoberto através das minhas leituras. Mas a minha intenção era não fazer senão alguns zazen para poder a seguir integrar esta prática nas minhas sessões de yoga. Mas isto não aconteceu assim, Desde que me sentei no dojo de Lausana, soube com evidência que tinha encontrado a prática que eu queria continuar toda a minha vida.
O que mudou na sua vida após várias décadas de prática?
Nada. E tudo. Nada, porque continuo a viver normalmente todas as minhas fraquezas como qualquer um. Tudo, porque pus a minha prática do zen no coração da minha vida. Esta tornou-se mais leve e verdadeiramente feliz.
Como veio parar a Portugal?
Em 1997 vim estabelecer-me em Lisboa para ajudar o meu mestre Raphaël Doko Triet na criação do Dojo zen de Lisboa e de outros grupos de zazen no país. Em 2005 o meu mestre voltou a viver em Paris e confiou-me a responsabilidade do dojo.
Porquê iniciar uma prática meditativa?
Para se (re)encontrar a si próprio. Cada homem, em certos momentos da sua vida, interroga-se sobre o sentido da sua existência e sobre uma maneira de vida menos agitada. A meditação traz o apaziguamento do corpo e do espírito. Mas zazen não é uma técnica de bem-estar. É uma prática da Via do Buda que consiste em se conhecer a si mesmo esquecendo-se de si mesmo naquilo que fazemos aqui e agora, não em oposição ou em concorrência mas em harmonia com todos os seres.
Porque escolheu esta forma de meditação e não outra?
Sentar-se sem mexer e em silêncio estando apenas concentrado na postura e no vaivém harmonioso da respiração: é este «voltar às condições normais do homem», como dizia o mestre Taisen Deshimaru, que logo me atraíu.
O zen é uma religião?
Mestre Deshimaru dizia: «O zen é a religião de antes das religiões». Cada um pode praticar zazen qualquer que seja a sua religião, a sua cultura, as suas opiniões. Poderíamos dizer: o zen é a religião do instante presente plenamente vivido.