Teisho

Um Teisho é um ensinamento oral sob a forma de uma conferência dada pelo Mestre Zen sobre a sua compreensão de um certo aspecto do Dharma.

Encontrarão mais abaixo alguns exemplos do Mestre Yves Shossin Crettaz.

Bonnon: as 5 qualidades dos sons

Exerto do teisho em videoconferência de sábado 11 de Abril 2020

Quando praticamos um som no dojo, devemos ter em mente as cinco qualidades da voz de Buda:

1 – Shojiki: sincero. Isto significa que o som é como é, sem afetação, sem querer imitar ninguém. Por exemplo, a voz do ino que canta os títulos dos sutras ou que canta o eko canta com a sua voz, sem querer alterá-la.

2 – Waga: doce. O som não deve ser duro, não deve perturbar a calma do dojo. Por exemplo, o som do sino de shusso que marca o início do zazen deve ser delicado, nem muito forte nem muito baixo. O som deve ajudar à concentração, não perturbar.

3 – Seitetsu: penetrante. O som deve ser delicado e fino, não mole ou hesitante. Claro como a campainha (inkin) durante a cerimónia, penetrando como o som do kyosaku que acorda mesmo aqueles que não o receberam.

4 – Shinman: profundo. O som preenche completamente o espaço, como o tambor que indica o tempo com um som que ressoa através do corpo.

5 – Enbun: que ressoa, que pode ser ouvido de longe. O bonsho, o grande sino fora do templo que toca a cada 2,5 minutos durante a primeira parte do zazen. 
Tradicionalmente, o bonsho era tocado para lembrar às pessoas da aldeia vizinha que o tempo voa e os monges estão a praticar.

Bonnon, as cinco qualidades de som, aplicam-se tanto aos instrumentos como à voz quando cantamos um sutra. Sincero, suave, penetrante, profundo, ressonante: é a vibração certa.

Bonnon 
é exigente. É por isso que é importante praticar quando se tem uma nova responsabilidade. Tornar-se íntimo deste som, explorando as possibilidades da campânula, da campainha, do mokugyo. Para que o som da campânula durante o Hannya Shingyo seja honesto, suave, claro, profundo.

Numa palavra, para que pratiqueis o som certo. Para isso, o instrumento deve ser tocado, tanto quanto possível, na expiração. Mas, além disso, deve ser tocado no momento certo, com os intervalos certos. Por exemplo, os espaços entre as pancadas do tambor que marcam o tempo devem ter a mesma duração.

Os sons devem harmonizar-se uns com os outros. Durante o Hannya Shingyo, o kyosaku usa dois sinos: o sino grande (daikei) e o sino pequeno (ken). O seu som deve harmonizar-se com o som do mokugyo, cair ao mesmo tempo e o som do mokugyo deve coincidir com a voz do ino. E a voz do ino é seguida pela assembleia que, por sua vez, canta em harmonia com a voz do mokugyo. A isto chama-se cantar com os ouvidos.

Quando um destes sons chega um momento demasiado tarde ou demasiado cedo, a delicada concentração da cerimónia empobrece. Quando eles coincidem exactamente ao mesmo tempo com a sua qualidade correta, então podemos realmente dizer que estamos a praticar em conjunto com um só espírito.

Saborear o gosto simples da Via

Trecho do Teisho feito no Campo de Verão de Seikyuji em 2007  acerca da participação do Mestre Yves Sosshin Crettaz no Ango (retiro de três meses) do mesmo ano no Templo da Gendronnière em França.

Durante os 90 dias de ango, aprendi muitas coisas, dia após dia, desde as 5h da manhã até à noite.
Aprendi a cantar longos sutras durante trinta minutos em seza, a tocar o tambor para ritmar as cerimónias complicadas, aprendi dezenas de sons e de termos japoneses, rituais e tantas outras coisas ainda durante os ensinamentos. Sim, aprendi muito mas após algumas semanas, de volta a Lisboa, devo constatar que já esqueci quase tudo.

Mas aquilo que não pude esquecer, e espero nunca esquecer, é precisamente que é preciso abandonar-se,
esquecer-se nestes gestos. Aprender todos estes gestos, todos estes rituais, não tem nada a ver com a aprendizagem técnica. É, através da maneira justa, aprender a ser como unsui, quer dizer, esquecer-se a si próprio,
abandonar este corpo e este espírito, para que este corpo e este espírito voem como nuvens no céu e escorram como a água viva de um riacho.

As folhas amarelas quase
todas caíram na terra

Apenas as do carvalho forte
e orgulhoso

Estão ainda penduradas

Alguns dias mais

E também elas se soltarão

Na prática repetida e generosa, o ego dissolve-se como a nicotina num copo de água e o apego a tudo o que não é ango, evapora-se pouco a pouco. Mergulhamos então no mundo da não separação: o braço, o malho, a madeira, as vibrações e o tentilhão no ramo do carvalho que escuta os sons, tudo isso é um.

« Ango, disse-nos um dia Imamura Roshi, o Docho (responsável) deste Sotoshu Training Monastery, em que
se se tornou a Gendronnière durante estes três meses de outono, é simplesmente aprender a viver juntos em harmonia. »  

Nunca eu tinha sentido até que ponto a harmonia é filha da delicadeza, de uma delicadeza que se criou ao longo dos dias, através de gestos simples mas sempre justos.

Exemplo : uma manhã, depois de duas ou três semanas desta longa, longa sesshin, o Dokan roshi
(tanto) disse-nos no sodo (pequeno templo) : «Quando praticais kin hin na vossa casa avancem à vossa maneira. Mas aqui, por favor, harmonizem as distâncias entre vós e avancem ao mesmo ritmo.». De repente, cada um olhou o mais discretamente possível para trás de si e tentou avaliar se era conveniente avançar ou recuar. (2 metros ? 1 metro ? Bom, 1 metro e meio) para ficar no seu justo lugar. Passados dias, não foi mais necessário olhar, calcular. O lugar certo caía como um fruto maduro, harmoniosamente. E no fim, era como se os onze participantes do ango e os monges japoneses que os enquadravam, avançassem numa única respiração. Eu pratico é uma coisa, nós praticamos é outra.

E mesmo indo em fila indiana para entrar no hatto (grande dojo) para as cerimónias, no caminho da lages esgueirando-se entre as árvores, naturalmente as distâncias entre nós harmonizaram-se, à imagem da ninhada dos patinhos seguindo a sua mãe nas idas ao templo.

O que é ango?
Talvez não seja senão aprender a andar como os patos.

Outros
exemplos: uma vez disseram-nos para segurar o livro de sutras à altura dos
olhos, os três dedos centrais de cada mão no exterior. Ou ainda de igualar o
tempo entre os gatsu (toque abafado da campânula), o toque do mokugyo
seguinte e o início do sutra.

Estes pequenos nadas, estes pequenos gestos sempre cada vez mais delicados acabaram por entrar no fundo de nós porque os gestos que repetimos se incarnam. Se todas as manhãs levantarmos o punho ao vizinho, tornamo-nos um murro, se fazemos gassho, tornamo-nos gassho.

Tornamo-nos aquilo que fazemos: se fazemos ango, tornamo-nos ango, tornamo-nos « ficar na tranquilidade e viver em harmonia. »

Quando o jovem Dogen perguntou a Nyojo o que era a prática da Via, o velho mestre respondeu-lhe:
« É ser doce consigo e ser doce com os outros. »

Todos nós ressentimos profundamente esta doçura que é uma outra maneira de dizer harmonia da pura sangha que construimos. Todos juntos praticámos esta delicadeza que engendra a harmonia, como a carícia engendra o sorriso. Amámo-nos profundamente como companheiros da Via onde dar não é diferente de receber.

Ango, é saborear juntos o gosto simples da Via que, segundo Fuyo Dokai, é o gosto da nossa escola Soto.

Os passos tranquilos
Dos monges caminhando
No cascalho Cantando o sutra
Do gosto simples da Via

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